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PROJETOS INTEGRADORES NO ENSINO MÉDIO INTEGRADO

Como promover a interdisciplinaridade e unir teoria e prática, mesmo sem mudanças estruturais no currículo?

18 MIN

24 JUL 2024

Os vários caminhos para integração curricular que apresentamos no primeiro módulo, interdisciplinaridade, contextualização e problematização, são comumente vinculadas a opções metodológicas que se concentram na aprendizagem e nas ações dos estudantes. 

Uma das principais dificuldades para promover a integração curricular perpassa o impacto nas matrizes curriculares e na já apertada carga horária. Tendo em vista os princípios norteadores das Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Profissional e Tecnológica dada pela Resolução CNE/CP nº 01/2021 (Brasil, 2021), que orienta pela:

IX - utilização de estratégias educacionais que permitam a contextualização, a flexibilização e a interdisciplinaridade, favoráveis à compreensão de significados, garantindo a indissociabilidade entre a teoria e a prática profissional em todo o processo de ensino e aprendizagem (MEC/CNE/CP, 2021, p. 2)

Uma estratégia seria a curricularização das atividades integradoras, para que elas componham as matrizes curriculares dos cursos. Podemos pensar, por exemplo, em uma organização curricular estruturada em três núcleos principais: Núcleo Básico, Núcleo Integrador e Núcleo Profissionalizante. Essa estrutura é projetada para proporcionar uma formação integral, combinando uma base sólida de conhecimentos gerais com competências técnicas específicas. O Núcleo Básico abrange disciplinas do ensino médio, promovendo uma formação cultural e científica ampla. O Núcleo Integrador atua como um elo entre o conhecimento teórico e a prática profissional, permitindo a aplicação prática dos conceitos aprendidos. Por fim, o Núcleo Profissionalizante concentra-se em desenvolver habilidades técnicas avançadas, preparando os estudantes para enfrentar os desafios do mercado de trabalho na área de informática. Essa abordagem integrada visa não apenas formar profissionais capacitados, mas também cidadãos críticos e conscientes.

Nessa proposta de organização curricular, o Núcleo Integrador pode articular um ou mais projetos durante todo o ensino médio integrado. Aqui, apresentaremos uma proposta para o desenvolvimento de um projeto integrador partindo de uma temática a ser explorada durante as 3 etapas do ensino médio.

Ao longo do projeto, os alunos terão a oportunidade de aplicar conhecimentos teóricos em situações práticas, desenvolvendo habilidades técnicas, socioemocionais e cidadãs. Através de atividades interdisciplinares e metodologias ativas, os estudantes serão desafiados a pensar criticamente, a resolver problemas reais e a colaborar de maneira eficaz.

O papel do docente nesta proposta é fundamental. Como condutor e, assim como diria Paulo Freire, autoridade epistêmica do processo de aprendizagem, o professor é responsável por orientar, motivar e apoiar os alunos em cada etapa do projeto. A colaboração entre os docentes das diversas disciplinas envolvidas é crucial para garantir a coesão e a integração dos conteúdos, proporcionando uma aprendizagem rica e significativa.

Dessa forma, é importante que os docentes do curso sejam envolvidos em todas as etapas de construção do projeto integrador, desde seu planejamento, definição do tema e objetivos até a fase final de conclusão e apresentação do projeto.

Os docentes têm a missão de guiar os estudantes na construção do conhecimento, promovendo a indissociabilidade entre teoria e prática. Eles devem criar um ambiente de aprendizagem colaborativo e estimulante, onde os alunos se sintam encorajados a explorar, experimentar e inovar. Além disso, os professores devem fornecer feedback contínuo, auxiliando os alunos a refletirem sobre seu progresso e a aprimorarem suas habilidades. Para isso, esse projeto demanda uma metodologia de avaliação coerente com a proposta, apresentaremos mais adiante como isso pode ser feito.

Para melhor exemplificar como se dá a proposta de projeto integrador, partiremos de um tema exemplo como: "Cidades Inteligentes: Desenvolvendo Soluções Tecnológicas para Comunidades Sustentáveis" e utilizaremos como ambiente o Curso Técnico em Informática Integrado ao Ensino Médio. Apresentamos um roteiro detalhado para a criação e desenvolvimento do projeto "Cidades Inteligentes: Desenvolvendo Soluções Tecnológicas para Comunidades Sustentáveis". Nele, são descritas as etapas e atividades planejadas para cada ano do ensino médio, as disciplinas envolvidas, as metodologias a serem utilizadas, e os critérios de avaliação. Esperamos que, através desta proposta, os docentes possam conduzir os alunos em uma jornada educacional integradora, preparando-os para os desafios do futuro e capacitando-os a contribuir significativamente para a sociedade.

PLANEJAMENTO INICIAL

Etapa 1: Definição dos Objetivos

Os objetivos devem ser definidos levando em consideração não apenas os conteúdos específicos do curso técnico em informática, mas também incorporando os campos do trabalho, ciência, cultura e tecnologia, pensados e articulados de forma que considerem o contexto histórico e social de onde vivem os estudantes. Além disso, é importante fomentar a capacidade dos alunos de trabalhar colaborativamente, resolver problemas complexos e comunicar suas ideias de maneira eficaz, preparando-os para atuar como cidadãos conscientes e responsáveis. Dessa forma, os objetivos do projeto não apenas guiam o processo de ensino-aprendizagem, mas também asseguram uma formação integral e contextualizada dos estudantes.

Por exemplo:

  • Objetivos Gerais:

    • Compreender o conceito de cidades inteligentes e a importância da sustentabilidade urbana.

    • Desenvolver habilidades técnicas em tecnologias da informação e comunicação aplicadas a soluções urbanas.

  • Objetivos Específicos:

    • Identificar os componentes e as tecnologias envolvidas em uma cidade inteligente, incluindo IoT, Big Data, IA e automação.

    • Identificar desafios urbanos que podem ser resolvidos através de soluções tecnológicas, como gestão de energia, transporte e resíduos.

    • Projetar e implementar protótipos de soluções tecnológicas que promovam a sustentabilidade urbana.

    • Integrar conhecimentos de disciplinas técnicas e propedêuticas no desenvolvimento de soluções inovadoras.

    • Desenvolver habilidades de trabalho em equipe e comunicação eficaz na apresentação de soluções.

    • Avaliar o impacto ambiental e social das soluções propostas, promovendo a reflexão crítica sobre a sustentabilidade.

 

Etapa 2: Escolha do Tema e Contextualização

Ao selecionar um tema, é importante considerar sua pertinência contemporânea e sua capacidade de conectar teoria e prática de maneira significativa com a realidade dos estudantes. O tema deve ser abrangente o suficiente para permitir a integração de diversas disciplinas, mas específico o bastante para possibilitar a aplicação prática dos conhecimentos adquiridos.

Para selecionar um tema, deve-se avaliar a sua relevância atual e futura, considerando desafios globais e locais, e as possibilidades de intervenção na realidade pelas propostas que podem surgir dos próprios alunos. Para tanto, o tema deve ser capaz de despertar o interesse e a curiosidade dos alunos, motivando-os a investigar e solucionar problemas reais.

A contextualização do tema envolve explorar suas múltiplas dimensões e implicações, demonstrando como ele se relaciona com o cotidiano dos alunos e com as disciplinas do currículo. 

Durante esta etapa, é fundamental envolver os alunos no processo de escolha do tema, promovendo discussões e reflexões sobre os problemas e desafios que eles percebem em seu entorno. Isso não apenas aumenta o engajamento, mas também garante que o projeto seja significativo e relevante para eles. 

  • Tema: "Cidades Inteligentes: Desenvolvendo Soluções Tecnológicas para Comunidades Sustentáveis"

  • Justificativa: A importância de desenvolver soluções tecnológicas para enfrentar os desafios urbanos contemporâneos com foco na sustentabilidade ambiental e na melhoria da qualidade de vida.

 

Etapa 3: Identificação das Disciplinas Envolvidas

A etapa de identificação das disciplinas envolvidas no projeto integrador é fundamental para assegurar a integração curricular e o sucesso da proposta pedagógica. Nesta etapa é crucial o envolvimento de todos os docentes do curso possibilitando uma visão abrangente e integrada do projeto, de modo a garantir a coesão do projeto e a integração dos conteúdos, proporcionando uma aprendizagem significativa e contextualizada para os alunos.

Ao pensar na interdisciplinaridade cabe ressaltar que ela não acontece apenas na sala de aula e não depende de um único professor, ela acontece na inter-relação entre as disciplinas, professores e alunos. Neste cenário, cabe ao docente ter uma visão integrada da realidade e compreender que o entendimento mais profundo de sua área de formação não basta para dar conta de todo o processo de ensino. 

“Ele precisa apropriar-se também das múltiplas relações conceituais que sua área de formação estabelece com as outras ciências.”

Thiesen, 2008, p. 551

São exemplos de conteúdos que podem ser abordados em cada componente curricular:

Núcleo Básico:

  • Língua Portuguesa: Comunicação. Funções e usos da linguagem.

  • Redação: Elaboração de relatório. Comunicação em mídias digitais

  • Matemática: Estatística: Média aritmética e ponderada, moda e mediana. 

  • Geografia: Ocupação do território brasileiro: população e urbanização. Sistemas de transporte. Contexto ambiental.

  • Física: Trabalho e energia. Eletrização, força e campo elétrico. Circuitos elétricos.

  • Biologia: Ecologia Fundamentos

  • Química: Estudo de materiais sustentáveis.

  • Sociologia: Implicações entre o mundo do consumo e o do trabalho dos tempos modernos.

 

Núcleo Profissionalizante:

  • Análise de Sistemas: Modelagem de aplicações.

  • Empreendedorismo e Gestão de Projetos: Desenvolver e identificar fontes de ideias; Elaborar e gerir projetos.

  • Linguagem e Programação: Desenvolver o raciocínio lógico através da lógica de programação e algoritmos. Utilizar diferentes linguagens de programação para o desenvolvimento de aplicações.

  • Banco de Dados: Modelagem e gerenciamento de dados.

  • Redes de Computadores: Implementação de sistemas em rede e segurança da informação.

DESENVOLVIMENTO DO PROJETO POR ANO

As etapas de desenvolvimento do projeto devem levar em consideração os conteúdos disciplinares desenvolvidos em cada etapa do curso, seja ele semestral ou anual. Dessa forma, os alunos terão condições de assimilar e aplicar os conhecimentos adquiridos em cada disciplina de forma integrada com as atividades propostas de acordo com o seu nível de desenvolvimento naquele momento.

Os sistemas de avaliação na abordagem integrada, pode ser melhor desenvolvido utilizando-se a avaliação por rubricas. A proposta é de que essas rubricas sirvam como instrumentos para autoconhecimento do estudante, facilitando sua autoavaliação e promovendo uma perspectiva de aprendizado ao longo da vida. Para Blass e Brasil Irala (2021) a avaliação por rubricas surgiu como um método para integrar estudantes, padronizar critérios, oferecer maior transparência ao processo e monitorar com eficiência todas as etapas planejadas até que elas sejam concluídas. A rubrica pode ser definida como uma ferramenta avaliativa que fornece orientação ao aluno com base em fatores observáveis.

Por exemplo:

Primeiro Ano: Fundamentos e Introdução

Atividades e Conteúdos:

  • Pesquisa sobre Cidades Inteligentes: Introdução aos conceitos de cidades inteligentes e sustentabilidade, com foco na urbanização e seus desafios.

  • Lógica de Programação e Algoritmos: Aprendizado dos fundamentos da programação, desenvolvimento de algoritmos simples e resolução de problemas básicos.

  • Urbanização e Sustentabilidade: Estudos sobre o impacto da urbanização no meio ambiente, abordando temas como mobilidade urbana, gestão de recursos e impacto ambiental.

Metodologias:

  • Aulas Expositivas e Dialogadas: Introdução teórica dos conceitos, seguida de discussões em sala de aula para aprofundamento dos temas.

  • Pesquisa em Grupo e Apresentações: Atividades de pesquisa colaborativa, onde os alunos exploram diferentes aspectos das cidades inteligentes e apresentam suas descobertas.

  • Exercícios Práticos de Programação: Desenvolvimento de pequenos projetos de programação para aplicar os conceitos aprendidos.

 

Sistemas de Avaliação:

 

Exercícios de Programação:

  • Nível 1 (Iniciante): Soluções incompletas com vários erros.

  • Nível 2 (Básico): Soluções funcionais com alguns erros e pouca criatividade.

  • Nível 3 (Proficiente): Soluções corretas e funcionais, com boa lógica.

  • Nível 4 (Avançado): Soluções inovadoras e eficientes, sem erros.

 

Segundo Ano: Desenvolvimento e Prototipagem

 

Atividades e Conteúdos:

  • Aprofundamento em Programação: Desenvolvimento de software mais complexo, utilizando linguagens de programação e ferramentas de desenvolvimento.

  • Modelagem e Gerenciamento de Dados: Introdução aos conceitos de banco de dados, incluindo modelagem, criação e gestão de dados.

  • Análise de Dados sobre Sustentabilidade: Coleta e análise de dados relacionados ao consumo de recursos e impacto ambiental nas cidades.

 

Metodologias:

  • Aprendizagem Baseada em Projetos (PBL): Os alunos trabalham em projetos que envolvem a aplicação prática dos conceitos de programação e banco de dados para resolver problemas reais.

  • Oficinas Práticas de Programação e Modelagem de Dados: Sessões práticas onde os alunos desenvolvem e testam seus projetos, com orientação dos professores.

  • Discussões e Análises de Casos Reais: Estudo de casos de cidades que implementaram soluções inteligentes, análise crítica e discussão em grupo.

 

Sistemas de Avaliação:

Desenvolvimento e Qualidade dos Protótipos:

  • Nível 1 (Iniciante): Protótipos incompletos ou não funcionais.

  • Nível 2 (Básico): Protótipos funcionais, mas com várias limitações.

  • Nível 3 (Proficiente): Protótipos funcionais e bem desenvolvidos.

  • Nível 4 (Avançado): Protótipos inovadores, funcionais e bem acabados.

 

Terceiro Ano: Implementação e Avaliação

Atividades e Conteúdos:

  • Implementação e Teste das Soluções Tecnológicas: Desenvolvimento final e implementação das soluções propostas, testes de funcionalidade e usabilidade.

  • Análise de Viabilidade Econômica e Impacto Social: Estudo da viabilidade econômica das soluções desenvolvidas e seu impacto social nas comunidades.

  • Apresentação dos Projetos em Eventos Comunitários: Preparação e apresentação dos projetos em feiras de ciência e tecnologia, eventos comunitários e outros fóruns relevantes.

RECURSOS E FERRAMENTAS

Os docentes podem se valer de recursos tecnológicos e materiais de apoio para além daqueles utilizados nas disciplinas. Os projetos integradores, abrem espaço para apresentar aos alunos soluções inovadoras, aplicações e recursos que podem somar àqueles já listados nos currículos.
 
Ferramentas Tecnológicas

  • Plataformas de desenvolvimento de software (ex.: IDEs, GitHub).

  • Ferramentas de modelagem UML (ex: Astah).

  • Ferramentas de modelagem de dados (ex.: MySQL, MongoDB).

  • Ambientes de simulação e teste.

 
Materiais de Apoio

  • Livros e artigos sobre cidades inteligentes e sustentabilidade.

  • Livros e tutoriais sobre programação e desenvolvimento de software.

  • Recursos didáticos para aulas expositivas e oficinas práticas.

INTEGRAÇÃO COLABORAÇÃO E DIVULGAÇÃO
 
Promover um ambiente de aprendizagem colaborativo, no qual os docentes e alunos trabalham juntos de maneira coesa e integrada. Envolver a comunidade tanto escolar quanto externa, promover parcerias público-privado para levantamento de necessidades, testes e implementação das soluções. A colaboração e essa integração não só enriquecem o processo de ensino-aprendizagem, mas também prepara os alunos para desafios do mundo real, onde o trabalho em equipe e a interdisciplinaridade são cruciais.
 
Ao final, os projetos e seus resultados podem ser apresentados e divulgados em eventos comunitários, feiras de ciência e tecnologia e publicações acadêmicas.

Grupo de Estudo ao ar livre

Quais metodologias podem auxiliar no desenvolvimento de projetos integradores?

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